sábado, 11 de maio de 2019

Preposição e conjunção subordinativa. Será que subordinam?

É voz geral, mansa e pacificamente aceita, que a preposição e certas conjunções são palavras subordinativas. Por isso, as últimas são chamadas conjunções subordinativas.

Examinando essas palavras gramaticais, à luz do sintagma, tropeçamos  numa dúvida que maltrata.  Nem tanto  como o enigma da estrada de Tebas, porém o bastante como a do soneto oco do Bruxo de Cosme Velho1. Merece reflexão.  

Segundo  Câmara2,  fiel ao espírito da definição implícita em Saussure,  entende-se por sintagma “um conjugado binário em que um elemento determinante cria  um elo de subordinação com outro elemento, que é determinado”.

O sintagma, como se vê da definição, conta com dois elementos. Um dos elementos é o determinante;  o outro é o determinado.  Por isso,  conjugado binário.

Na verdade, há um terceiro elemento ,  não implícito, mas explícito na definição, isto é,  da relação determinante/determinado  -infere-se  a subordinação.

Assim, a relação determinante/determinado cria o elo de subordinação.  Criado o elo de subordinação, entre o determinante e o determinado, um dos elementos da relação, forçosamente, será o subordinante e o outro o subordinado.  Não é difícil perceber que o elemento determinante será sempre  o  subordinado e, consequentemente,  o determinado, sempre será o subordinante.

Os exemplos esclarecem melhor. O exemplo é sempre mais eficaz que o conceito, já proclamava Samuel Johnson:  “Exemple is always more efficacious than precept”. Passemos a eles.

               Em ” lobo mau”, mau determina lobo. ”Mau” , determinante; “lobo”,  determinado.
               Lobo”, porém, subordina “ mau”. Determinado subordinando o determinante.

Vejamos outro exemplo.  “lobos”. O morfema “s” determina o tema “lobo”.  Determina, isto é, esclarece que se trata de mais de um animal. Então, “s”, determinante;  “lobo” , determinado. Do mesmo modo, o determinante é o subordinado e o determinado é o subordinante. Vejamos numa  oração, sujeito e predicado, ou em parte da oração, núcleo do predicado e seu complemento. Seja a oração: “gosto de frutas”.

O predicado “gosto de frutas determina o sujeito desinencial de primeira pessoa. Sujeito, determinado; predicado, determinante. Sujeito, subordinante; predicado, subordinado.

Passemos ao predicado “gosto de frutas”. O complemento relativo, que chamam de objeto indireto, “de frutas”, determina o núcleo do predicado  gosto”.   De frutas”, determinante;  gosto”,  determinado. Por outro lado,  gosto,  subordinante; de frutas, subordinado.

Não há necessidade de prosseguir.  Já é possível compreender a razão da dúvida. Em uníssono alegam que, no exemplo, o “de”, preposição, subordina o complemento ao verbo. Então o “de”, como elemento subordinante, terá de ser, à luz do sintagma, determinado pelo termo que a ele se subordina: “frutas”.  A  preposição “de” porém, nem  é determinante nem é determinado.

Reiterando, pergunta-se que razão nos leva a classificar o “de”, preposição, como elemento subordinativo? Se “de” é elemento subordinativo, forçosamente tem de “ser” elemento determinado!  Ele  o é?

Que digam os sábios da escritura!
                             
                               


1 - Machado de Assis. Dom Casmurro,  capítulo 55. Biblioteca Folha. 1997
2 - Câmara Jr. Joaquim Mattoso . Dicionário de Linguística e Gramática. Vozes, 1978.