Examinando
essas palavras gramaticais, à luz do sintagma, tropeçamos numa dúvida que maltrata. Nem tanto como o enigma da estrada de Tebas, porém o
bastante como a do soneto oco do Bruxo de Cosme Velho1. Merece reflexão.
Segundo Câmara2, fiel ao espírito da definição implícita em
Saussure, entende-se por sintagma “um conjugado binário em que um elemento
determinante cria um elo de subordinação
com outro elemento, que é determinado”.
O
sintagma, como se vê da definição, conta com dois elementos. Um dos elementos é o determinante; o outro é o determinado. Por isso,
conjugado binário.
Na
verdade, há um terceiro elemento , não
implícito, mas explícito na definição, isto é, da relação determinante/determinado -infere-se
a subordinação.
Assim, a relação
determinante/determinado cria o elo de subordinação. Criado o elo de subordinação, entre o
determinante e o determinado, um dos elementos da relação, forçosamente, será o subordinante e o outro o
subordinado. Não é difícil perceber que
o elemento determinante será sempre
o subordinado e, consequentemente, o determinado, sempre será o subordinante.
Os
exemplos esclarecem melhor. O exemplo é sempre mais eficaz que o conceito, já
proclamava Samuel Johnson: “Exemple is
always more efficacious than precept”. Passemos
a eles.
Em
” lobo mau”, mau determina lobo. ”Mau” , determinante; “lobo”, determinado.
“Lobo”, porém, subordina “ mau”. Determinado subordinando o
determinante.
Vejamos outro exemplo. “lobos”.
O morfema “s” determina o tema “lobo”. Determina, isto é, esclarece que se trata de
mais de um animal. Então, “s”, determinante;
“lobo” , determinado. Do mesmo
modo, o determinante é o subordinado e o determinado é o subordinante. Vejamos numa
oração, sujeito e predicado, ou
em parte da oração, núcleo do predicado
e seu complemento. Seja a oração: “gosto
de frutas”.
O predicado “gosto de frutas” determina o sujeito desinencial de primeira
pessoa. Sujeito, determinado; predicado, determinante. Sujeito, subordinante;
predicado, subordinado.
Passemos
ao predicado “gosto de frutas”. O complemento relativo, que chamam de
objeto indireto, “de frutas”,
determina o núcleo do predicado “gosto”.
“De frutas”, determinante; “gosto”, determinado. Por outro lado, gosto, subordinante; de
frutas, subordinado.
Não
há necessidade de prosseguir. Já é
possível compreender a razão da dúvida. Em uníssono alegam que, no exemplo, o “de”,
preposição, subordina o complemento ao verbo. Então o “de”,
como elemento subordinante, terá de ser, à luz do sintagma, determinado pelo termo que a ele se
subordina: “frutas”. A preposição
“de” porém, nem é determinante nem é
determinado.
Reiterando,
pergunta-se que razão nos leva a
classificar o “de”, preposição, como
elemento subordinativo? Se “de” é elemento subordinativo, forçosamente tem de “ser” elemento determinado! Ele o
é?
Que digam os sábios da escritura!
1 - Machado de Assis.
Dom Casmurro, capítulo 55. Biblioteca
Folha. 1997
2 - Câmara Jr. Joaquim Mattoso . Dicionário de Linguística e Gramática. Vozes,
1978.