sábado, 28 de dezembro de 2013

SOBRE O ÉTIMO DA PALAVRA “MARCIANO”


            De imediato, podemos separar a palavra em dois monemas, ou formas mínimas, os seus constituintes: “MÁRCIO” e o sufixo “-ANO”,  bastante comum, com o sentido fundamental, conforme Oiticica1, de  , relação, proveniência, origem, pertença; exs. “serrano, que vem de serra; originário de lá; italiano, que vem da Itália, nascido, fabricado lá, urbano, da cidade, pertencente à cidade ou dela proveniente.
            Proximamente, MARICANO provém do latim MARTIUM – A – UM, adjetivo de primeira classe.
            A raiz MÁRCIO, primeiro elemento da palavra  MARCIANO, vem do latim MARTIUM, aliás, é a própria forma latina desnasalada, com a simples adaptação  da grafia, pois o –T-, naquelas condições, já soava –C- em latim: MARTIUM/MARCIO.
            Resumindo, em MARCIANO, temos uma raiz derivada do latim MARS, MARTIS, substantivo da 3ª declinação, para designar o deus da guerra. DDa mesma família etimológica temos MARCUS (grande martelo de ferreiro), cujo diminutivo nos deu MARCELO, pequeno martelo.
            A título de curiosidade, damos abaixo outros cognatos, ou seja, outras palavras da mesma raiz:

            1. Março:        (martius mensis), mês dedicado a MARTE, deus da guerra;
            2. Marçal:        lat. “martialis”, marcial, de marte;
            e. Marcelino:   Marcelinus, diminutivo de “Marcelo” que, embora já seja um
                                   diminutivo em latim, em português essa noção diminutiva
                                  desapareceu, como em “abelha”, derivada do diminutivo latino
                                  “apicula”, se faz em português abelhinha, pela obliteração do
                                  sentido primeiro.

                                   Por derradeiro, MARCIANO vem do latim MARTIANUM (acusativo), decomponível  na raiz MARTIUM e no sufixo –ANO (latim ANUM)


1.  Oiticica -  José. Manual de Análise. Francisco Alves. 1958. São Paulo.

sobre o étimo da palavra "marciano"

segunda-feira, 6 de maio de 2013

adjetivo determinante sintagma suboracional superoracional visão estática visão dinâmca

O ADJETIVO O adjetivo como determinante do sintagma SUBORACIONAL e SUPERORCAIONAL Em resposta à consulta de Elizabeth Prezada Elizabeth, Sinceramente agradecido pela sua participação. Muito importante a sua pergunta. Revela consciência plena da questão levantada: o comportamento do adjetivo tanto no sintagma suboracional quanto no superoracional, uma vez que, no poema de Jorge de Lima, constante do blog, ele foi examinado apenas pelo ângulo suboracional. Como se sabe, o adjetivo exerce suas funções sintáticas tanto projetando uma visão estática como uma visão dinâmica do universo, assim como o substantivo e o advérbio, No primeiro caso, visão estática, ele é um determinante do sintagma suboracional; no segundo, visão dinâmica, ele é um determinante do sintagma superoracional. Vejamos, valendo-nos de exemplos, que, segundo Sêneca, é o caminho breve e eficaz da sabedoria. Tomemos a frase, ou a oração “o homem trabalhador vence”. Trabalhador, como parte da oração, adjunto adnominal, é um determinante do sintagma suboracional. Como todo determinante, é subordinado ao seu determinado. Agora tomemos a frase, ou a oração geral: O homem que trabalha vence. A opção agora foi pela visão dinâmica (homem que trabalha, não o homem trabalhador). Que trabalha continua exercendo a função de adjunto adnominal, mas agora representado por uma oração determinante do mesmo substantivo. Esse determinante oracional, que trabalha, é um determinante do sintagma superoracional. Como determinante, é subordinado ao seu determinado. Por isso esse adjunto adnominal será conhecido como oração subordinada adjetiva. Oração, porque é uma expressão de sujeito e predicado; subordinada porque é determinante; adjetiva porque determina um substantivo. Não há, pois, necessidade de dizer, como faz a Gramática: oração subordinada adjetiva. Basta dizer: “adjunto adnominal oracional” Isso vai acontecer também com o substantivo e com o advérbio das chamadas e nunca explicadas orações subordinadas substantivas e adverbiais. Não sei se me fiz claro. Havendo dúvida, estou à disposição. Dentro dos meus limites, naturalmente. Postado por Pedro Junqueira Bernardes no blog Pedro Junqueira Bernardes em 2 de março de 2013 22:55 ________________________________________

domingo, 5 de maio de 2013

A Musa dos Olhos Arregalados ou A Chave antes da Fechadura

A Musa de Olhos Arregalados – Lições Machadianas “ No princípio não era o verbo. Era a simples cogitação.” No capitulo 55 de Dom Casmurro, o autor fala de um soneto que ele nunca fez. Conta que, estando na cama, lhe veio uma exclamação na medida de um verso. Pensou em compor com ele um soneto, embora ainda não fosse uma ideia. De posse desse primeiro verso, pensou em compor os demais, os treze restantes. Sentiu dificuldade em compô-los na sequência natural. Não vinha mais nada, depois do primeiro verso. Como não vinha o segundo verso, naturalmente nem o terceiro nem o quarto, decidiu arrematar o poema, compondo o último verso – a chave de ouro do soneto, para depois recheá-lo com os doze versos que faltavam. O soneto estava, pois, aberto com o primeiro verso e fechado com o último. Contudo, não estava completo. Faltavam os doze versos do miolo. Como eles não vieram, por mais que teimasse, decidiu abandonar a empreitada e oferecer os dois versos, o do início e o do fim, ao “primeiro desocupado” que os quisesse para que, “Ao domingo, ou se estiver chovendo, ou na roça, em qualquer ocasião de lazer”, enchesse o centro que faltava e desse à luz o soneto inacabado. Eis os dois versos, o de saída e o de chegada: “Oh! flor do céu! Oh! flor cândida e pura!” ................................................................... “Perde-se a vida, ganha-se a batalha.” Esse o resumo do capítulo 55. Agora uma reflexão sobre ele. Embora nunca tenha escrito ou feito o soneto, atormentante poema inexistente, por isso verdadeiro fantasma, mereceu do autor um capítulo inteiro, e extenso, com o título de “Um Soneto”. Ainda que não o tenha composto, ao falar dele, porém, o Bruxo do Cosme Velho nos sugere um caminho novo para exercitar na arte da composição. Se não uma aula, ao menos um caminho novo de como compor ou ensaiar a composição do texto a partir de uma interjeição – preâmbulo de uma ideia ainda não concebida. Simples “exclamação solta”, escandida como primeiro verso: “Oh! flor do céu! Oh! flor cândida e pura!” Ainda não era uma ideia. Era uma singela exclamação vagabunda, na medida de um decassílabo em gaita galega: “Oh! flor do céu! Oh! flor cândida e pura!” Tem-se um verso, mas não se tem uma ideia. O que se quer agora é uma ideia para, desenvolvida em verso, chegar-se ao soneto, trancado com chave de ouro. Tem-se a chave, mas não se tem a fechadura. Assim, o ponto de partida para a composição do texto não foi a idéia, que ainda nem existia. Para começo bastou a inquietação, as cócegas. Por vezes nem cócegas - uma simples comichão basta. A idéia vem depois. Quem diz é ele: “Quanto à idéia, o primeiro verso não era ainda uma idéia, era uma exclamação, a idéia viria depois.” No princípio ainda não era o verbo, mas uma interjeição inquietante e medida, em forma de verso: “Oh! flor do céu! Oh! flor cândida e pura!” Prossegue a busca: revolve-se a mente, excogita-a na procura dessa ideia que esvoaça e não pousa. Enquanto não pousa, vai-se poetando insone, sem cessar e vigilante, em longa noite indormida, verdadeira “musa de olhos arregalados”. Alvoroçado e inquieto, ferroado pelo verso interjeitivo e solitário, debate em busca da idéia, ou conceito, que lhe permita desenvolver as estrofes e compor o soneto imaginado: . “Tinha o alvoroço da mãe que sente o filho,...”. Contudo, depois de virar e revirar, de cavar muito, de revolver e excogitar, eis que surge a ideia embrionária. Aleluia! Caminhou-se, pois, do embrião ao signo; da interjeição ao conceito: “Quem era a flor? Capitu, naturalmente.. mas podia ser outro conceito.” Mas conceito! Pariu-se pois a ideia! Aflorada a ideia, é preciso agora afagá-la, acalentá-la e querer desenvolvê-la. Na metáfora machadiana, é preciso sentir cócegas e querer coçar: “...as cócegas pediam unhas, e eu coçava-me com a alma”. Começa-se pois a coçar! Para desenvolver a idéia, opta-se pelo gênero ou pela forma. Machado optou pelos versos dispostos em soneto: “...mas afinal, ative-me ao soneto.” A idéia porém teimava em não produzir frutos. Empacou-se e não arredou pé: “...mas nem assim vinha mais nada.” Ora, raciocinou ele, como a opção foi por um soneto, e como os sonetos bem elaborados se fecham com chave de ouro, representada pelo último verso bem arquitetado, por que não fundir a chave antes da fechadura, elaborando um verso bem urdido, que trancasse o poema de forma elegante e fazer a marcha triunfal de volta até esbarrar no ponto de partida: “Oh! flor do céu...” Chegou a imaginar que era praxe proceder assim: “...imaginei que tais chaves eram fundidas antes da fechadura.” Assim procedeu e, depois de muito lavrar e garimpar, saiu a chave da “perfeição louvada”, não mais na espécie do decassílabo moinheiro ou da gaita galega. Agora decassílabo heróico: “Perde-se a vida, ganha-se a batalha.” Pronto. Estavam enfim estabelecidos os limites do soneto! Um grito d´alma na abertura, como convém às interjeições, e um fechamento heróico, com uma chave de ouro, como convêm aos sonetos. Só faltava a fechadura com seu miolo! E ela não veio! Os doze versos medulares não vieram. Nem mais a gaita da ternura para prosseguir do primeiro verso, nem a tuba belicosa para recuar do último. Empacou-se e a chave de ouro trancou o nada. Nem soneto nem panegírico: “Trabalhei em vão, busquei, catei, esperei, não vieram os versos.” Nem os galegos nem os heroicos. Por amor dos dois versos solitários, doou-os ele ao primeiro desocupado que os quisesse, para prossegui-los em dia de chuva ou na preguiça do ócio domingueiro Assim, se algum leitor destas garatujas nutrir algum sentimento por uma “flor do céu”, ainda que não tão pura e nem tão cândida, e se por ela apostar a vida para ganhar a batalha, pode se apropriar dos dois versos do bruxo e, com eles, nem compor mas transcrever o soneto metafísico que, por metafísico, na lição do autor, já deve existir feito; tudo sem o crime de plágio, pela expressa outorga do titular do direito, o solitário do Cosme Velho. Há umas poucas condições impostas pelo Bruxo e reduzidas a termos, para a cessão dos versos: Ser o cessionário desocupado; laborar ao domingo, ou em dia de chuva ou ainda na roça. Se for em dia de chuva ou na roça, o texto não fala na necessidade de ser domingo. Pedro Junqueira. (Junho de 2012)