NOTAS PEREGRINAS SOBRE
a) O "ADVÉRBIO" E O VERBO DE LIGAÇÃO
b) O CARÁTER GRAMATICAL DO "VERBO DE LIGAÇÃO"
Seja o exemplo seguinte:
"Este bairro que TAMBÉM é meu causa-me grande tristeza"
Não parece razoável que “TAMBÉM” esteja determinando a forma verbal de ligação "É”, mesmo porque "É", salvo melhor juízo, nem chega a ser verbo, porém um VERBÓIDE, com ostensiva roupagem de verbo. Análise mais percuciente ou aguda acaba por revelar que "TAMBÉM", no citado exemplo, na realidade determina o predicativo "MEU" (verdadeiro predicado) e não o verbóide “É”. Com menor imprecisão poderíamos afirmar que “TAMBÉM” é determinante do PREDICADO "É MEU": "...é meu também". Viria agora um outro problema para engrossar o vezo de incluir os advérbios na classe dos determinantes não só do verbo, mas ainda do adjetivo e do "PRÓPRIO advérbio" (estranho conceituar algo como modificador de si mesmo: advérbio é palavra que modifica advérbio!). Considerando-se o caso presente, o advérbio teria uma quarta função: além da possibilidade de determinar o verbo, o adjetivo e o próprio advérbio, determinaria também o predicado. Mais uma conta no rosáro.
Ledo engano! A verdade é que o advérbio não passa de determinante do verbo, apenas do verbo. Nas outras funções sintagmáticas, ele se afasta da classe dos advérbios, e se inclui na dos DENOTADORES, nas sábias lições de José Oiticica.
Resta ainda outra indagação: por que o VERBO DE LIGAÇÃO deve ser incluído na classe das palavras de significação interna, e não na classe das de significação externa? Examinemos.
Trata-se, conforme se vê, de palavra complexa ou
múltipla, de duplo conteúdo; por ser VERBO DE LIGAÇÃO,
ou, o que dá no mesmo, CONECTIVO VERBAL. Analisemos
os dois conteúdos. Em primeiro lugar, como poderia ser em
segundo lugar, a sua parte CONECTIVA. Como conectivo, ou ligação, não resta dúvida, os conectivos são palavras de significação externa, recorta o mundo gramatical, puramente lingüístico, e não o mundo bio-social ou bio-físico. Isso mesmo, os conectivos, em que se incluem os verbais ou verbos de ligação, são palavras de significação puramente interna.
Examinemos agora a parte verbal do “conectivo verbal” ou do “verbo de ligação”. O que tem ele de verbo? Em primeiro lugar, podemos observar que o verbo de ligação não é um determinante semântico, como são os verbos não de ligação, os nocionais, no sintagma de que são parte. É um determinante puramente desinencial: Quando digo "O ALUNO ESTUDA", ESTUDA, dando uma informação ou uma notícia nova do sujeito, já o determina, o que não acontece com "O ALUNO É", em que “é”, dando notícia desinencial, acaba não determinando o sujeito, o que só acontecerá se se completar o sintagma com um nome, que os gramaticos impropriamente chamam de predicativo, por exemplo "...ESTUDIOSO" em: "o aluno é estudioso".
Então, a parte verbal do VERBO de LIGAÇÃO de verbo só tem as flexões de modo, tempo, número, pessoa e aspecto. Ora, as flexões não são sinais ou signos do mundo objetivo, ou significações externas. Referem-se ao mundo puramente gramatical, por isso mesmo sinais gramaticais ou exclusivamente significações internas. Não há, pois, como não classificar os verbos de ligação como palavras gramaticas binárias, como o é o pronome relativo.
Próxima reflexão: O dativo dos verbos de ligação.
... se se complementar... é permitido?
ResponderExcluirCaro Vinícius, queira desculpar, mas não compreendi bem a indagação.
ResponderExcluirComplementar o quê? Boa semana e fraterno abraço!
Caro Vinícius, queira desculpar, mas não compreendi bem a indagação.
ResponderExcluirComplementar o quê? Boa semana e fraterno abraço!
Ele quis dizer se a construção "se se complementar" é possível. O nosso colega Vinícius tem que rever um pouco de conjunção, pronome (se) e colocação pronominal para entender essa. Acho eu.
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