sexta-feira, 2 de abril de 2010

A PREPOSIÇÃO

A PREPOSIÇÃO

Atendendo sugestão, aventuro-me a uma incursão na zona gris desse conectivo, que teima em desafiar os usuários da língua.

Não vamos nos deter nessa ou naquela preposição. Em primeiro lugar, vamos procurar saber o que é PREPOSIÇÃO.




CONCEITO

1 – MATTOSO - DICIONÁRIO
“Vocábulos que funcionam como morfema de relação para subordinar um substantivo, como: a) adjunto a outro substantivo ou como complemento a um verbo” Dá os exemplos: “livro de Pedro”, “fugiu de mim” .

2 – ZÉLIO S JOTA – DICIONÁRIO
“Palavra invariável que estabelece uma relação de subordinação entre dois termos. A preposição rege um termo de natureza substantiva”.

3 – ENÉAS MARTINS DE BARROS – GRAMÁTICA (Atlas/1985)

“A preposição é o termo que designa, entre as partes do discurso, a classe das unidades que indicam certas relações entre os termos de um esquema sintático”.

4 – DUBOIS ET ALII – DICIONÁRIO

“A preposição é uma palavra invariável , cujo papel é o de ligar um constituinte de frase a outro constituinte ou à frase toda, indicando, eventualmente, uma relação espaço-temporal.”

5 – ROCHA LIMA – GRAMÁTICA – José Olímpio/1974

“São palavras que subordinam um termo da frase a outro – o que vale dizer que torna o segundo dependente do primeiro”.

6 – BECHARA – GRAMÁTICA – LUCERNA/99

“Chama-se preposição a uma unidade lingüística desprovida de independência – isto é, não aparece sozinha no discurso, salvo por hipertaxe – e, (sic) em geral, átona, que se junta a substantivos, adjetivos, verbos e advérbios para marcar as relações gramaticais que elas desempenham no discurso, quer nos grupos unitários nominais, quer nas orações.”

7 – CELSO P.LUFT – GRAMÁTICA – GLOBO/78

“Palavra gramatical com função subordinativa chamada regência. Conectivo subordinante, indica que seu conseqüente se subordina a um antecedente (que, no enunciado , pode vir depois ou estar omisso, subentendido).”

8 – SOUZA LIMA – GRAMÁTICA - /ED. NACIONAL/37

Divide as preposições em essenciais e palavras preposicionadas. Conceitua as primeiras.

“...são palavras que, por sua própria natureza, indicam entre duas outras uma relação de complemento”.

Ver na mesma obra, pág. 179, o estudo que ele faz das
“palavras preposicionadas”, que outros chamam de preposições acidentais.

9 – JÚLIO RIBEIRO – GRAMÁTICA – FRANCISCO ALVES/913

“Preposição é uma palavra que liga um substantivo ou um pronome a outro substantivo, a um adjetivo, a um verbo, mostrando a relação que há entre eles”

10 – MAXIMINO MACIEL – GRAMÁTICA – FRANC.ALVES/1918

“Preposição é uma palavra intervocabular que indica a relação sintática entre os dois termos.
Estes termos são o antecedente e o conseqüente”

11 – MÁRIO VILELA – GRAMÁTICA – ALMEDINA, COIMBRA/99

“A preposição (= pre + posição) serve de instrumento de ligação entre dois segmentos do enunciado, em que a seqüência colocada após a preposição fica dependente de `um certo modo` da seqüência que precede a preposição.”

12 – OITICICA – JOSÉ – MANUAL DE ANÁLISE – 1958

“Preposição é a palavra que indica relação entre duas idéias”.

Posso ter muitas idéias de um lado, ligadas a outras tantas do outro, por meio de uma única preposição!



13 – JERÔNIMO SOARES BARBOSA – GRAMÁTICA
ACADEMIA REAL DE CIÊNCIAS – LISBOA/1830

“Preposição he uma parte conjunctiva da oração, que posta entre duas palavras indica a relação de complemento, que a segunda tem para a primeira”
Pág. 310.

13 – BRANDÃO – CLÁUDIO.- SINTAXE CLÁSSICA – UMG/63

“É a categoria gramatical que tem por função ligar entre si duas palavras, subordinando uma a outra, para indicar não só determinadas circunstâncias, mas também posse, referência, origem...”

13 - FINALMENTE PERINI

GRAMÁTICA - ÁTICA – 96 (pág. 333)

“...o primeiro (a preposição) tem como função sintática alterar a classe do SN ou de uma oração – ou, mais precisamente, acrescentar-se a um SN ou a uma oração, formando um sintagma maior que pertence a outra classe que não SN ou O (oração – acrescentamos). A esses chamaremos conectivos subordinativos (sic).”

Ilustração

“Vamos partir de um exemplo, o da palavra de. Sabemos que um SN não pode ser modificador, a função de modificador (interno ou externo) é típica de sintagma adjetivo. A palavra de tem a propriedade de converter um SN em SAdj, dando-lhe, assim a possibilidade de funcionar como modificador. É o que acontece no sintagma

(29) A mãe de Míriam

O item Míriam pode ser NSN e pode constituir, sozinho, um SN; mas não pode ser modificador. Já o sintagma de Míriam pode ser modificador; é, na verdade, um sintagma adjetivo. A função da palavra de é justamente a de formar, juntamente com um SN, um SAdj.

Em outros casos, pode-se converter um SN em sintagma adverbial. Por exemplo, um SN não pode desempenhar a função de adjunto circunstancial; mas um constituinte formado da palavra em mais um SN funciona como sintagma adverbial e pode ser AC (adjunto circunstancial?):

(30) Míriam mora em Fortaleza.

Como se vê, palavras como de e em de certa forma `mudam` a classe e, portanto, as propriedades sintáticas dos SNs: de + SN é um SAdj, em + SN é um SAdv.

Há um grupo de palavras semelhantes a de e em que só podem construir-se com SNs, formando SAdj e SAdvs; podemos chamá-las
preposições. Definem-se assim:

Preposição é a palavra que precede um SN, formando o conjunto um SAdj ou em SAdv.”

APRECIAÇÃO

1 – MATTOSO - DICIONÁRIO
“Vocábulos que funcionam como morfema de relação para subordinar um substantivo, como: a) adjunto a outro substantivo ou como complemento a um verbo” Dá os exemplos: “livro de Pedro”, “fugiu de mim” .

COMENTÁRIO

Para Mattoso, a preposição subordina unicamente um substantivo a outro substantivo ou a um verbo. Sabemos que a preposição liga também o substantivo

a um advérbio: votou favoravelmente à sua libertação;
a um adjetivo: ele é favorável ao pedido;
a um pronome: este livro é dele;
a uma oração: o juiz é favorável a que ele seja libertado;
osso duro de roer;
” Vide Jesus a despejar os vendilhões do templo”.

Não leva ele em conta o complemento nominal. Apenas adjunto adnominal, embora faça referência ao complemento nominal (Dicionário de Lingüística e Gramática): “...amor aos pais; compaixão para com os humildes” (para com, duas preposições)

Mesmo levando-se em consideração o amplo conceito de substantivo de Mattoso (todo nome ou pronome que designa um ser, caracterizando-se na frase pela possibilidade de funcionar como sujeito ou objeto), mesmo assim o seu conceito de preposição deixa de fora muitas realizações da língua: o complemento nominal, os complementos oracionais e os adjuntos também oracionais.

Para Mattoso o processo de subordinação é exercido
pela preposição, e não pelo determinado do sintagma.

A prevalecer esse entendimento, o determinado do sintagma seria a preposição. A função de subordinante só pode ser exercida pelo determinado, logo, se a preposição subordina forçosamente ela seria determinada.

3 – ENÉAS MARTINS DE BARROS – GRAMÁTICA (Atlas/1985)

“A preposição é o termo que designa, entre as partes do discurso, a classe das unidades que indicam certas relações entre os termos de um esquema sintático”.
elo determinado do sintagma.


2 – ZÉLIO S JOTA – DICIONÁRIO
“Palavra invariável que estabelece uma relação de subordinação entre dois termos. A preposição rege um termo de natureza substantiva”.

COMENTÁRIO

Para ele a relação de subordinação é estabelecida pela preposição, não pelo sintagma (determinante/determinado).

Segundo o autor a preposição é o termo regente: “a preposição rege um termo de natureza substantiva”.

Ficaram de fora os termos de natureza adjetiva, também os de natureza verbal, e os de natureza pronominal.

“Chamou-o de tolo”
“Por ele o mar remoto navegamos”



3 – ENÉAS MARTINS DE BARROS – GRAMÁTICA (Atlas/1985)

“A preposição é o termo que designa, entre as partes do discurso, a classe das unidades que indicam certas relações entre os termos de um esquema sintático”.

COMENTÁRIO


Em que pese a autoridade e o reconhecido saber do autor, não foi ele feliz ao conceituar preposição. O conceito ficou um pouco confuso.

Salvo melhor juízo, designar é nomear. A preposição não designa, não nomeia. E mais: Segundo ele, ela designa a classe das unidades... Pergunta-se:

O que é que ela designa?
A classe.
Que classe?
Das unidades.
Que unidades?
As que indicam certas relações entre os termos.
Que termos?
De um esquema sintático.
Ora, não são “as unidades” que vão indicar as relações entre termos. Esse é ofício da própria preposição.

Parece que não há como salvar o conceito. Realmente não entendi.

4 – DUBOIS ET ALII – DICIONÁRIO

“A preposição é uma palavra invariável , cujo papel é o de ligar um constituinte de frase a outro constituinte ou à frase toda, indicando, eventualmente, uma relação espaço-temporal.”

Parece que não há reparo significativo a fazer. Contudo há no conceito alegações de taxa zero de informação. Realmente, a preposição é palavra invariável. Ninguém tentará fazer flexionar uma preposição. Dispensável também é a notícia de que ela poderá indicar uma relação espaço-temporal. Essa informação não é exaustiva, nem há porque priorizá-la. As circunstâncias expressas pelas preposições formam uma lista aberta. Basta ler Cláudio Brandão (Sintaxe Clássica) para se concluir que é difícil relacioná-las todas. Num relance, o Autor da magistral Sintaxe oferece uma relação de nada menos que vinte significações (opere citato, pág. 555).

O cerne do conceito merece também algumas considerações: “A preposição liga um constituinte de frase a outro constituinte de frase”:
Escreveu aos amigos

O constituinte verbo (núcleo do predicado) e o constituinte objeto indireto permeados pela preposição “a”.

“A preposição liga um constituinte de frase à frase toda”. Impossível uma preposição ligar um constituinte de frase a toda a frase, uma vez que o constituinte da frase é parte da própria frase. Melhor é dizer apenas que ela liga um constituinte de frase a outro constituinte porque, mesmo quando ela liga orações subordinadas (infinitivas ou justapostas), essas orações não deixam de (como constituintes) fazer parte da mesma frase. :


“Fitava o azul do céu, a perguntar de onde vinha aquela noite...”

A função introduzida pela preposição a (a perguntar de onde vinha aquela noite...), é um constituinte da oração complexa (adjunto adverbial de modo), da mesma forma que a função introduzida pela preposição de (de onde vinha aquela noite...) – também constituinte de outra oração complexa (objeto direto do verbo perguntar).

“Não sabia por quem tinha sido enganado”

A função introduzida pela preposição por (por quem tinha sido enganado) é também constituinte de outra oração complexa (objeto direto), ligado por justaposição.


5 – ROCHA LIMA – GRAMÁTICA – José Olímpio/1974

“São palavras que subordinam um termo da frase a outro – o que vale dizer que torna o segundo dependente do primeiro”.

Aqui aparece um elemento novo. A dependência: “o segundo termo depende do primeiro”. O autor entende subordinação como dependência. O comum é haver subordinação com interdependência. Na expressão “gosto de maçã”, na verdade o “gosto” é quem aparece como dependendo do complemento. Por outro lado, o complemento também depende do elemento completado, não há complemento “de nada”. O que existe, sem sombra de dúvida é uma interdependência.
O melhor é trabalhar com o sintagma. O sintagma não trata de dependência, trata de subordinação e a subordinação não se assenta na dependência, assenta-se na primazia ou na precedência linear do determinado. É preciso que haja, em primeiro lugar, algo para ser determinado. Essa preexistência é que lhe dá a primazia sobre o elemento determinante e, conseqüentemente, o caráter subordinante – nada de dependência de um sobre o outro.

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